Sou tão conectado aos sentidos
que provavelmente num despertar pós morte
me perguntarei onde estarão meus ouvidos,
meus olhos, minhas mãos, meu nariz, minha boca.
E então as folhas desse lugar
sem verdes ou monocromáticos me dirão,
num sussurro sem vozes, como as videiras caminham
e se anexam sem olhos
seguindo linhas de luz e imagem com precisão.
E um Sol frio, frio, vai tocar como um beija-flor na primavera,
meu corpo translúcido e sossegado
numa fotossíntese cósmica e verdadeira.
Esses olhos de pérola e ônix que ficam vagando
por detrás das cortinas dos sentidos não devem ser de se ver.
São pertencimentos aquáticos.
Um feixe feito peixe, que cega quem adentra deste mar.
Vivo, eu mesmo fico na margem e me abeiro,
Sentir é ter na barca e veleiro
a rede e a isca que te permite pescar.