22022022 ou Nuvens

Passo muito tempo do dia buscando ter certeza do que eu quero.
Se aquilo é realmente o que eu sinto. 
Essa busca é a minha perseguição pela legitimidade do sentimento.

A minha busca pela salvação. E a salvação em si.
Observo o Sol. Pareceu se mover diferente pela tarde. Um mover distinto.
Eram só aquelas deslocações das nuvens que acontecem sempre.
Mas numa dança de nuvens as paredes mudavam de cores e escureciam
e clareavam. 
E por horas passei a olhar apenas para esse fenômeno pirotécnico das movimentações.
A pirotecnia da dança.
E então os cantos das paredes me mostraram a aranha também abismada.
Não era como o pássaro que se entrepassava às linhas aéreas dos desenhos luminosos.
Mas ela também se entrepassava sobre luzes das suas próprias criações.
As aranhas são legítimas. Não podem voar mas criam seu próprio mundo flutuante.

Poema antigo

Respiro.

Talvez minhas costelas abracem os meus pulmões pela forma como o ar atravessa cada cratera corporal. 

Eu te amo, diz indo,

Eu te amo, diz, vindo,

A cada fragmento de vento emoldurado.

Não sou perímetro, permito-me ser todo.

O formato é o infinito. Que desaparece na noite.

Na noite, eu encontro o que não se mostra, e me mostro onde eu me encontro. Em linha reta. Uma abstração imaterial. Não sou balanceável. Um espelho que não reflete a imagem inversa, pois não existe simetria. O barco flutua desigual mas em linha reta. 

A minha pele em linha reta. 

O meu cabelo em linha reta, encaracolado.

As montanhas no horizonte em linha reta, e tão curvas. 

Um ramo verde, outro seco. E quantos destes entre um e outro.

Em cada linha reta eu contorno o entorno, cruzo o fio, abro cada braço. 

Basto em ausência.

Pra quem está submerso a lágrima não é triste.

Talvez minhas costelas abracem os meus pulmões pela forma como o ar atravessa cada cratera corporal.