sexta-feira, 2 de julho de 2021

Tento-me a pensar que tenho dois rostos

Tento-me a pensar que tenho dois rostos.

Um que foi meu assim que nascí, e outro 

Com traços mutáveis, perdido em todo lugar.

-Te procuro!


Já se foram muitas noites, dias, manhãs,

e quantas nem me dei conta!

Meus rostos: -um sem sentido, outro sem maçãs,

que meu ser a buscar remonta.


Sempre que saio a ver as criaturas

puxa-se uma linha nas sobrancelhas 

Outra retrai e move as rachaduras

da testa, dos olhos, das orelhas.


Um rosto trança o outro.

Este o devolve o revés.

Tenho um rosto que transmuta 

Para que eu possa ver através.


Qual deles uso hoje

Pra mostrar-lhes a minha face?

Ambos se tecem na difícil trama

e se embolam no prisma do lace.


Tento-me a pensar que tenho dois rostos.

Um que foi meu assim que nascí, e outro 

Com traços mutáveis, perdido em todo lugar.

-Te procuro!

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